terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Livro das Sete Cores

A Joaninha quer ser maçã. O melhor e mais saboroso dos frutos, de uma simplicidade quase ingénua, mas cheio de doçura em cada dentada. O seu perfume faz lembrar manhãs amenas e pomares, onde o bulício da cidade é apenas uma imagem distante.
Uma cesta de maçãs é uma dádiva. Com elas preenchemos um calendário: compota, tarte, bolo, rebuçados, licor…
Gostamos delas rijas, doces, maduras, verdes, golden,…e vermelhas. E sempre que pensamos em maçãs, pensamos em vermelho. É inevitável.


O vermelho
Eu sou o vermelho
e sei o que quero.
Há quem me chame encarnado
mas eu gosto mais da cor
do meu sangue.
Encarnados são os
salmonetes.
Quando falam de mim
têm sempre a mania de me
enfeitar
com papoilas,
como se não houvesse mais
flores
da mesma cor. E se as há!
Olhem as rosas, os cravos,
os gladíolos, as sardinheiras…
Claro que cada uma delas diz
vermelho
à sua maneira:
a rosa como se fosse a única a
dizê-lo,
o cravo alegremente,
o gladíolo num grito a crescer,
 a sardinheira cantando num
pregão.
Mas stop, chega de flores,
digo eu, que sou uma cor
brusca
- ou não coubesse no fogo
ou não corresse no vinho
ou não me arrojasse nas
touradas
ou não me rasgasse nas arestas dos rubis
ou não nascesse sempre sempre
na vertigem das bandeiras.

- Falem em mim, em mim – pede-me a joaninha.
- E então eu? –alvoroça-se o rabanete.
Parte-se a melancia, desesperada:
- Não se iludam, não se iludam.
Olhem-me para o coração!

Contemplo-os a todos.
São o meu território,
o meu mundo.
Mas que seria eu sem eles?

A nossa memória de hipopómato carrega sempre O Livro das Sete Cores junto aos Estranhões. Complementam-se.
Uma obra a descobrir, em que as palavras nascem da cumplicidade de Maria Alberta Menéres e António Torrado.
As cores, essas tão importantes cores que dão título ao livro, são fruto da mão de Jorge Martins, com colagens quase geométricas e tons vivos.
Os hipopómatos deliciam-se a ver a criançada, de tesoura e cola em punho, a tentar reproduzir as ilustrações de O Livro das Sete Cores.











Este livro ganhou o Prémio Calouste Gulbenkian de Ilustração de Livros para Crianças no ano de 1984. Ora, já lá vão 27 anos, e parece que foi ontem.


      




sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A menina que queria ser maçã


Quando perguntaram a Joaninha o que ela queria ser quando fosse grande (há sempre um dia em que um adulto nos faz essa pergunta), ela não hesitou:
- Quando for grande quero ser maçã!
Disse aquilo com tanta convicção que a mãe se assustou:
-Maçã?
A maior parte das crianças quer ser ; a) astronauta b) médica/o c) corredor de automóveis d) futebolista e) cantor/a f) presidente. Há algumas respostas mais originais: "Quero ser solteiro", confessou o filho de uma amiga minha. Conheço uma menininha que foi ainda mais ambiciosa: - Quando for grande quero ser feliz.
Mas maçã? Joaninha, meu amor, maçã porquê?


Aqui fica um pedacinho da história com que terminam os Estranhões & Bizarrocos. Uma menina que queria ser maçã. Porque quando sonhamos podemos ser qualquer coisa. E Joaninha sonhava muito. Não deixem de ler com os meninos. Esta é mesmo uma "estória para anjos". Bem vistas as coisas, o que os Hipopómatos desejam é que todos conheçam os Estranhões & Bizarrocos.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Estranhões & Bizarrocos II
















Jácome era um inventor de coisas impossíveis: tinta invisível, formigas mecânicas, pássaros a vapor, sapatos voadores, aparelhos de produzir espirros .


Um mundo inteiramente novo começou a nascer na sua oficina: eram lagartixas com todas as cores do arco--íris, camelos de cinco bossas, camaleões cantarores, de pele luminosa, gatos que pareciam anjos, com pequenas asas de seda plantadas no meio das costas. Um dia inventou um animal que não se assemelhava a mais nenhum. Chamou-lhe Estranhão. No dia seguinte criou um segundo, igualmente estranho e chamou-lhe Bizarroco


 A partir de um relógio de pulso, de um botão de camisa, de algumas molas da cama e de um lençol, Jácome tinha inventado alguns dias antes, um aparelho atravessador de paredes.Montado nele, atravessou as paredes, como se estas fossem feitas de água e voltou tranquilamente para a sua oficina. As crianças, os estranhões, os bizarrocos, os pássaros a vapor, as lagartixas com pele de arco-íris, enfim todos os bichos que ele havia inventado, receberam-no em festa. Uma festa que durou três dias. O atravessador de paredes foi a única coisa útil que Jácome inventou. Tudo o resto nunca serviu para nada. Mas é muito importante.